O ataque de Israel contra instalações nucleares no Irã, nessa quinta-feira (12/6), deixa o mundo em alerta máximo para possível escalada bélica envolvendo outras nações. Há importantes motivos para preocupação. Embora os Estados Unidosafirmem não ter se envolvido na coordenação da operação de Israel, o histórico apoio dos norte-americanos ao país judeu coloca, de maneira indireta, a maior potência do mundo no radar de uma retaliação. Outro ponto de apreensão é a “cooperação bilateral” entre os iranianos e a Rússia.
As últimas informações são de que, além das instalações de enriquecimento de urânio, houve destruição de regiões habitadas por civis, inclusive com vítimas, mas os números e as condições destas não foram divulgados. Após o programa nuclear do Irã ter sido atingido, o governo do país anunciou que vai retaliar a ação bélica. Um comunicado divulgado pelas Forças Armadas do Irã falou sobre possível operação de resposta. O texto diz, inclusive, que pontos dos Estados Unidos no Oriente Médio podem ser alvo de ataque.
“A retaliação da República Islâmica do Irã é certa, e o inimigo pagará um preço alto”, disse um porta-voz das Forças Armadas, em comunicado divulgado pela mídia estatal. “Não há necessidade de se preocupar no país, pois o regime sionista [Israel] e a América [EUA] pagarão um preço alto e receberão um duro golpe”, alertou.
Alvos e vítimas
As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram a autoria do ataque dessa quinta e afirmaram que os alvos teriam sido instalações “nucleares em diferentes áreas do Irã”. As explosões foram registradas na capital Teerã, mas também há relatos de bombardeios em vários pontos das imediações da cidade.
O ataque foi um duro golpe para o Irã, pois matou o comandante-chefe da Guarda Revolucionária (IRGC) do país, Hossein Salami, o comandante sênior do IRGC, Gholamali Rashid, e os cientistas nucleares Fereydoun Abbasi e Mohammad-Mehdi Tehranchi, conforme anunciado pela própria agência estatal de notícias.
A investida contra o Irã não deve se resumir ao bombardeio dessa quinta. Se depender das intenções do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a ofensiva deve se estender nos próximos dias. “Esta operação continuará por tantos dias quanto forem necessários para remover esta ameaça”, anunciou Netanyahu, em um pronunciamento.
O exército israelense, no entanto, já espera contra-ataque iraniano. Logo após atingir o rival histórico no Oriente Médio, as autoridades de Israel declararam estado de emergência no próprio território e fecharam o espaço aéreo. O mesmo foi determinado pelo Irã.
No pronunciamento, Netanyahu fez questão de citar nominalmente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem agradeceu por fazer um combate ao programa de enriquecimento de urânio do Irã. Os EUA, no entanto, afirmam não ter envolvimento nos bombardeios.
“O presidente Trump e a Administração tomaram todas as medidas necessárias para proteger nossas forças e permanecem em contato próximo com nossos parceiros regionais. Que fique claro: o Irã não deve atacar interesses ou pessoal dos EUA”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.
Veja o pronunciamento de Netanyahu
Estruturas de enriquecimento de urânio e relação com a Rússia
Mais cedo, em uma publicação na rede social X, o governo do Irã publicou mensagem do chefe da Organização de Energia Atômica do Irã criticando a atuação dos Estados Unidos no conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea).
“O que estamos testemunhando hoje é uma série de operações políticas e psicológicas dirigidas pelos americanos e perseguidas/implementadas por três países europeus”, escreveu Mohamad Eslami. Em outra publicação, na mesma sequência, o Ministério das Relações Exteriores criticou a atuação dos países no colegiado para levantar dúvidas sobre a “natureza pacífica do programa nuclear do Irã”.
O país árabe afirmou que uma de suas conquistas é a criação de um terceiro centro de enriquecimento de urânio “em um local seguro”. “A indústria de enriquecimento do Irã não pode ser destruída. Em resposta à sua ação ilegal e ultrapolítica, estamos inaugurando nosso terceiro local de enriquecimento”, postou no X.
Paralelamente a essas críticas ao trio de países europeus e aos EUA, o Irã também fez uma demonstração de bom relacionamento com a Rússia, por meio de uma publicação no X.
Em mensagem de felicitação pelo Dia Nacional da Federação Russa, o presidente iraniano dirigiu-se a Putin e aos russos. “A cooperação bilateral, regional e internacional entre o Irã e a Federação Russa continuará a expandir-se dia após dia”, a postagem foi feita antes dos ataques de Israel.
Netanyahu: Irã tem urânio suficiente para nove bombas atômicas
No pronunciamento após a investida, Netanyahu afirmou, sem fundamentação comprovada, que o Irã conseguiu enriquecer urânio o suficiente para produzir nove bombas atômicas.
O primeiro-ministro de Israel também disse que o Irã teria condições de, dentro “alguns meses” ou “em um ano”, produzir a bomba atômica. O suposto interesse do Irã na produção de uma bomba atômica foi o argumento apresentado por Netanyahu para o ataque, classificado por ele como “preventivo”.
“Hoje, o estado jesuíta recusa ser vítima de um holocausto nuclear perpetrado pelo regime iraniano”, afirmou o primeiro-ministro.
Israel e Irã são inimigos históricos. Agências de inteligência consideram que o Irã financia grupos extremistas – a história é rica em episódios nos quais Israel foi alvo deles. Em 1992, o Jihad Islâmico, considerado próximo ao Irã, fez um ataque contra a embaixada israelense em Buenos Aires. Houve 29 mortes.
Em 2024, o líder político que representava o Hamas em negociações internacionais, Ismail Haniyeh – autor dos ataques a Israel em outubro de 2023 –, foi morto em investida aérea israelense na capital do Irã. Desde então, houve ataques recíprocos, um deles feito pelo Irã em 1º de outubro de 2024, com o disparo de dezenas de mísseis contra Israel.
Fonte: Metrópoles